24/08/2007

Saúde: Carência nos Cuidados Continuados



Os hospitais ainda não estão sensibilizados para a existência de uma rede nacional de cuidados continuados integrados (RNCCI). Não referenciam os doentes que podem ir para unidades de convalescença onde estes se reabilitem após episódios agudos de doença. Segundo os números constantes do Relatório de Monitorização da Implementação das Experiências Piloto da RNCCI, o balanço do primeiro meio ano de funcionamento da rede mostra que as necessidades do país em cuidados continuados estão longe de ser satisfeitas. As 898 camas existentes só conseguiram uma taxa de ocupação de 71%. Apesar dos 29% doentes sem apoio, a coordenadora da Unidade de Missão dos Cuidados Continuados, teve a ousadia de considerar o balanço positivo. Este é infelizmente um fenómeno corrente: insensibilidade para o sofrimento das pessoas, ligando mais importância às estatísticas, lassidão perante as deficiências dos serviços, condescendência face ao fracasso de planos e promessas, incapacidade de criticar as origens dos erros, conivência com os incompetentes, irresponsabilidade nas declarações à comunicação social, etc.É absolutamente necessário sensibilizar os funcionários dos serviços hospitalares para os cuidados a ter com as pessoas doentes e carentes de atenções especiais e a referenciação de doentes que não precisem de internamento agudo. Se a "cultura" instalada "leva tempo a mudar", há que intensificar mecanismos de formação e informação que reduzam esse tempo de mudança. Sem mudanças estimuladas e impulsionadas, não há reformas que vençam.O facto de existirem equipas de gestão de altas para referenciar doentes para os cuidados continuados não resolve o problema, por os serviços de internamento nem sempre fazerem identificação dos doentes que necessitam daqueles cuidados. Impõe-se um trabalho interdisciplinar interactivo com boas ligações entre os diversos sectores, para que tudo passe a funcionar com eficiência em benefício dos doentes. Sem um apoio profissional e organizado, "imensas pessoas continuam a ser enviadas para casa, onde o acompanhamento é negligenciado, ou para lares que não estão preparados para tal"A recuperação das capacidades perdidas na sequência de um episódio agudo de doença exige uma abordagem multidisciplinar, que os hospitais, centrados na intervenção biomédica, não conseguem oferecer. Mas tem que ser criada, com urgência, possibilidades práticas para apoiar essa recuperação. Para isso, há um ministério da Saúde, com elevado número de assessores e outros colaboradores.
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Por: João Soares
Publicado no Blogue "Do Mirante"

2 comentários:

Mentiroso disse...

Há diversas respostas. uma já foi publicada nos blogs Do Mirante e do Leão Pelado. O problema, pelo que se deduz, é sempre o mesmo, falta de vontade e de interesse de satisfazer as necessidades da população desde que não dêem votos, ou dêem poucos.
Fica aqui a transcrição dum trecho.

Ao longo das últimas décadas temos assistido a dois fenómenos simultâneos e independentes. Um deles tem sido o progressivo aumento da esperança do tempo de vida, devido ao progresso da medicina e aos cuidados dispensados aos idosos e aos seus problemas específicos. O outro, o declínio da natalidade.

Note-se que, em Portugal, contrariamente ao que se passa em países avançados, mas característica dos países do terceiro e do quarto mundo, a especialidade médica de geriatria nem faz parte dos cursos universitários deste miserável país. Até há quem defenda a teoria de que não faz falta por poder ser repartida por outras especialidades. De acordo com essa teoria, pretender-se-á, então, dizer que em vez de um idoso consultar um único médico, deverá consultar sempre uma junta médica composta pelos diferentes peritos das especialidades que compõem a geriatria? Ou será que o idoso se vai dividir em partes sintomáticas para que cada uma seja enviada a um médico diferente e como se não houvesse relação entre os diversos e possíveis sintomas? Será que aqueles que fazem tais afirmações serão tarados? Ou será que os seres humanos nascidos e que vivem em Portugal são assim diferentes dos outros nos outros países? Não parece isto uma conversa de tarados? Ou de sacanas vigaristas? Omitem-se aqui referências sobre como os idosos são tratados em Portugal. Para quê, quando pelo menos semanalmente temos notícias sobre esses factos diversos. Se ultimamente essas notícias têm escasseado, isso deve-se apenas à imprensa se encontrar tão ocupada com outros casos.

A. João Soares disse...

A frase «falta de vontade e de interesse de satisfazer as necessidades da população desde que não dêem votos, ou dêem poucos.» resume toda a questão. Já uma vez disse que os políticos olham a população como os jogadores de futebol olham a relva do estádio. É preciso que se deixe calcar sem levantar dificuldades. A principal atenção que, teoricamente, devia ser orientada para ela, vai na direcção de «boys» e «girls» da oligarquia, que agora têm mais uma quantidade de tachos como assistentes de deputados, como início de carreira. Depois serão deputados, irão a secretários de Estado, ministros, etc. e tachos nas altas instituições do Estado e empresas cm «goldenshare», onde a sua incompetência para a vida privada é escondida por ordenados milionários.
Chamam a isto democracia!!! Onde estão os concursos públicos para ocupação destes lugares???
Abraço
Mentira